[ANÁLISE] AS RAINHAS QUE NUNCA FORAM - Rhaena Targaryen e sua filha Aerea





  



Sabemos que Westeros retrata um mundo medieval, onde inegavelmente há a existência de sérios casos de dominação patriarcal, seguido de machismo e muita misoginia. George R.R Martin utiliza esses fatores em sua obra como uma forma de influenciar e enriquecer o enredo, apesar de muitas das vezes soar exageradamente excessivo e gratuito.

Durante toda a história dos Sete Reinos, tivemos diversos reis que sentaram no Trono de Ferro, alguns fizeram história e outros não viveram tanto para isso. Porém, nunca houve uma Rainha Reinante em toda a história de Westeros, (com excessão do delicado caso de Rhaenyra, que falaremos depois) mas não por falta de pretensão, algumas mulheres foram negadas do seu direito ao Trono pelo simples fato de serem mulheres, algo que foi oficializado no Grande Conselho de 101 d.c, porém antes mesmo de sua existência já houveram casos de princesas terem ficado na frente da linha de sucessão e terem sido negadas de seu direito.

Rhaena Targaryen foi a filha mais velha do Rei Aenys e da Rainha Alyssa Velaryon, montadora da dragão Dreamfyre. Rhaena sofreu nas mãos de Maegor, o Cruel como uma de suas Rainhas, e após a rebelião de seu irmão Jaehaerys, se juntou a sua família.

Embora Jaehaerys fosse o único filho vivo do Rei Aenys, seu irmão mais velho, Aegon "Sem Coroa" morreu na rebelião tentando destronar o tio Maegor, mas antes já havia casado com Rhaena e tido duas filhas, as gêmeas Aerea e Rhaella. Então se Maegor era considerado um usurpador sem direito de governar, Aegon Targaryen era o verdadeiro rei, e o Trono de Ferro deveria passar por direito para uma de suas filhas, e não para seu irmão mais novo. Mas o sexo das garotas e suas personalidades, pesaram contra ela, assim como para Rhaena que supostamente poderia ter feito uma reivindicação mais forte a coroa, pois era a filha mais velha do Rei Aenys e racionalmente a próxima na linha de sucessão, na frente de Jaehaerys.


"Mas o sexo das gêmeas pesou contra elas, assim como a idade; as garotas tinham apenas seis anos na ocasião da morte de Maegor. Além disso, relatos deixados por contemporâneos sugerem que a princesa Aerea era uma criança tímida quando nova, dada a lágrimas e a molhar a cama"

( Fogo e Sangue, "De Príncipe a Rei - A Ascensão de Jaehaerys I", Pág 97)



Aqui vemos um exemplo de como mulheres eram submetidas a um olhar muito mais crítico que os homens, quando para o herdeiro homem era necessário apenas seu direito, para mulher era necessário que tivesse uma personalidade que agradasse aqueles que decidiam quem subiria ou não ao trono.

Houveram muitos reis que ascenderam ao Trono de Ferro e apesar de serem questionados, suas personalidades e ações nunca pesaram mais que seu direito. Se Aerea era uma criança chorona, não era realmente importante, sendo que era jovem e teria anos para se desenvolver até que assumisse a coroa que era dela por direito, aqueles que discutiam a sucessão naquele momento apenas usaram tal argumento para tirar a credibilidade de sua pretensão pois não era do desejo de ninguém que uma mulher governasse naquele momento de crise.
Vale ressaltar que Aenys, avô de Aerea, também fora uma criança chorona e problemática, mas isso nunca pesou no seu direito ao trono. Além do mais, com o passar dos anos e o vínculo com seu dragão, Aenys se desenvolveu. A mesma oportunidade não foi dada a Aerea.

O mais curioso de todo o caso de Rhaena, é que ela não possuía somente uma pretensão ao trono, Vejamos:

Como filha primogênita do Rei Aenys, é de se pensar que Rhaena fosse a primeira na linha de sucessão após sua morte, mas essa reivindicação era praticamente inválida pois a Casa Targaryen e o Trono de Ferro seguiam os costumes ândalos (talvez até mesmo Valirianos, porém não se sabe dizer ao certo como funcionava a sociedade e hereditariedade em Valíria) que davam preferência ao herdeiro homem em vez da mulher, mostrando assim como a reivindicação de Rhaena acabou se tornando fraca devido a cultura de uma sociedade patriarcal estabelecida em Westeros antes mesmo das chegadas dos Targaryen, costumes que foram usado para derrubar a pretensão de Rhaena, especialmente pela Mão do Rei da Rainha Regente Alyssa Velaryon, Lorde Rogar Baratheon.


"Alguns sugerem que a própria Rhaena poderia ter feito a reivindicação mais forte à coroa, sendo filha primogênita do Rei Aenys e da Rainha Alyssa. Houve até alguns que sussurraram que foi a Rainha Rhaena quem de alguma forma planejou livrar o reino de Maegor, o Cruel, embora nunca tenha se estabelecido precisamente de que forma ela poderia ter arquitetado a morte dele depois de fugir de Porto Real em sua dragão Dreamfyre. Entretanto seu sexo depunha contra ela."
"- Aqui não é Dorne - disse Lorde Rogar Baratheon quando a ideia foi apresentada a ele - , e Rhaena não é Nymeria."

( Fogo e Sangue, "De Príncipe a Rei - A Ascensão de Jaehaerys I", Pág 98)



Um caso interessante e inexplorado que pode nos ajudar a entender os costumes de hereditariedade e sucessão é a posse de Pedra do Dragão antes da Conquista, que devia se passar para Visenya, por ser filha mais velha do Senhor de Pedra Do Dragão, mas acabou sendo deixado para Aegon. Assim vemos que esse costume já era seguido pelos Targaryen antes mesmo dos Dragões conquistarem e unificarem os Sete Reinos.

Rhaena acabou desistindo da coroa, clamando que odiava a corte, e decidiu que seu irmão Jaehaerys deveria ser rei, como era o desejo comum de todos. Se Rhaena teria persistido com sua pretensão se houvesse sido apoiada, não sabemos, mas o Trono de Ferro ainda pairava em cima dela, pois se sua filha Aerea era a verdadeira herdeira do Trono, então de acordo com a lei, Rhaena deveria reinar como Regente até que a garota tivesse idade pra usar a coroa, mas essa questão não foi nem levantada, e a discussão da sucessão foi encerrada com Jaehaerys Targaryen sendo o herdeiro do Trono e sua mãe Alyssa agiria como regente até que o príncipe fosse maior de idade. Com o tempo, tudo isso chatearia Rhaena:


"Além disso, com o tempo a rainha Rhaena foi ficando cada vez mais ressentida de sua reivindicação ao Trono de Ferro, e também a de suas filhas, ter sido desconsiderada em favor do "meu irmãozinho" (como ela costumava chamar Jaehaerys). Ela era a primogênita, lembrava a quem quisesse ouvir, e montara dragões antes de qualquer um dos irmãos, mas todos eles, "até minha própria mãe", tinham conspirado para passar por cima dela."

(Fogo e Sangue, "Uma Abundância de Governantes",  Pág 129)


Mais tarde foi proclamado que a Princesa Aerea seria herdeira de Jaehaerys até que o Rei tivesse um filho, o que não demorou muito, em 53 d.c nasceu a Princesa Daenerys Targaryen, e com o tempo mais e mais filhos surgiram da semente de Jaehaerys, deixando Aerea cada vez mais longe na sucessão o que deixou a Princesa e a Rainha Rhaena magoadas.


"Aerea adorava a atenção que acompanhava o fato de ser uma Rainha em espera e não ficou satisfeita de se ver destronada pela princesa recém nascida.

Sua mãe, a Rainha Rhaena, provavelmente compartilhava desses sentimentos, mas segurou a língua e não falou nada nem mesmo para os confidentes mais próximos"

(Fogo e Sangue, "Nascimento, Morte e Traição sob o governo do Rei Jaehaerys I", Pág 177)



A tamanha injustiça com Rhaena e Aerea reflete como Westeros sempre foi "um reino de homens", onde as mulheres viviam sendo colocadas a margens e negadas de direitos. Algumas figuras notáveis tentariam mudar esse cenário trágico, mas não resultaria em muita coisa para mudar o sistema.
Como por exemplo, a Rainha Alysanne, esposa de Jaehaerys que foi pioneira de diversas leis e alterações para garantir o bem estar e direito das mulheres do Reino, porém após a sua morte, apesar de as leis instituídas continuarem, ninguém deu continuação a sua luta.

No meio desses acontecimentos, Rogar Baratheon tentaria trazer a tona novamente a pretensão de Rhaena e Aerea para seus próprios objetivos de se rebelar contra Jaehaerys, ele fala sobre agir como regente e sobre moldar e "guiar" Aerea até que ela tivesse idade pra tomar a coroa. Os planos de Rogar são rapidamente interrompidos pela sua esposa, a Rainha Alyssa.

Além de Rhaena, mais tarde teríamos o caso de Rhaenys, A Rainha que nunca foi, que discutiremos mais a frente. Que assim como Rhaena foi negada de seu direito, tendo seu sexo pesando na balança.
E mais a frente haveria o pior caso de todos, o de Rhaenyra Targaryen, que resultou na letal Dança dos Dragões.

Podemos apenas discutir e esperar que em As Crônicas de Gelo e Fogo, Martin seja capaz de finalmente quebrar esse ciclo vicioso de machismo na sucessão do trono e finalmente colocar uma mulher governante no trono de ferro, seja através de Cersei Lannister ou Daenerys Targaryen, seria muito prazeroso ver uma mulher governando e quebrando a soberania dos homens sobre o Reino.




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