[ANÁLISE] DAENERYS TARGARYEN: depressão não é loucura


Após o Series Finale de Game of Thrones, se tornou comum se referir a Daenerys Targaryen como a "Rainha Louca", foram passadas ao público diversas cenas para reforçarem essa ideia de desequilíbrio, todos na tentativa de enfatizar a suposta insanidade da Mãe dos Dragões para que pudessem justificar e realizar seu assassinato. Mas eram essas ações sinais de loucura mesmo? Vejamos:

A primeira vez que vemos Daenerys começando a mudar de atitude é após a Longa Noite, aonde perdeu seu mais fiel companheiro, Jorah Mormont. Após queimarem todos os mortos da batalha, os líderes se reúnem para uma reunião onde fazem uma contagem dos exércitos restantes e planejam seu próximo passo contra Cersei. Nessa cena somos apresentados a uma Daenerys visivelmente abalada pelas perdas da Batalha e se portando mais friamente que o normal, inclusive vale destacar a atuação de Emilia Clarke que demonstra em seu rosto uma Rainha em luto, principalmente após a contagem do exércitos terminar e ver quantos homens fiéis a ela sobraram, quando temos um close no rosto de Daenerys vemos ela fechando os olhos e lamentando. Após os planos serem concluídos, Sansa Stark sugere que os exércitos descansem antes, Daenerys chega a considerar e pergunta quanto tempo ela sugere, quando percebe  que Sansa não possuía uma resposta e tentava apenas atrasar seus planos, Dany descarta a idéia e discute com a Lady do Norte, quando expressivamente diz como vir ao Norte teve um grande custo pra ela, tanto pessoalmente quando militarmente.

Isso é apenas o começo da derradeira situação psicológica de Dany. Depois que planejamentos são feitos ela parte confiante e até mesmo feliz com seus dragões para Dragonstone, uma cena que inclusive a própria atriz comentou que era aonde Daenerys estava se sentindo confiante e realizada, antes de as coisas começarem a dar errado.

Então vamos a Dragonstone, onde as coisas realmente se mostram mais sérias. Quando Rhaegal morre e Missandei é capturada, Daenerys se reúne com seu conselho na mesa pintada, onde é confrontada por Varys. Aqui vemos uma Daenerys nervosa e estressada, cansada de ouvir aos conselhos absurdos de seus conselheiros (que literalmente queriam pedir o trono gentilmente para seus inimigos), mas o que não vemos, é o que está se passando em sua cabeça enquanto observa a mesa e escuta seus conselheiros, podemos assumir que estava pensando em vingança, ódio, raiva... sim, era tudo isso, mas também há um quadro de depressão começando a se desenvolver, onde consequentemente se envolve uma crise existencial.

Vamos olhar por outro lado: após a Longa Noite, o poder militar de Daenerys reduziu para talvez menos que um terço, o que uma vez fora o maior exército que o mundo já viu, repentinamente se torna apenas um meados de pouco mais que dois mil homens, Além da Muralha havia perdido um dragão e em Dragonstone perdeu outro, todos esse fatores deixam a Mãe dos Dragões vulneráveis aos olhos de seus inimigos, não só os de Westeros mais também aos de Essos.
Quanto tempo levaria para que as notícias se espalhassem para o outro lado do mar, onde os Mestres se sentiriam confortáveis o suficiente para retomarem o poder e estabelecer a escravidão novamente? ou a Harpia se reerguer contra os libertos governantes? Tudo que Daenerys Targaryen conquistou estava sendo perdido, em Westeros não havia conquistado nada, o reino não soube dos seus esforços na Longa Noite, os poucos que tinham conhecimento transferiam os créditos para Jon Snow e Arya Stark, o povo a temia e a odiava (cortesia das fake news de Cersei Lannister), seu apoio como Rainha se esvaía cada vez mais, sua missão tinha sido em vão, seus objetivos em vão, seus sacrifícios jogados no lixo.

Não há injustiça maior com a personagem, Daenerys Targaryen era uma mulher que estava vendo o mundo se desmoronando a sua frente, desde que chegou em Westeros, tudo que obteve foram perdas atrás de perdas por confiar em seus conselheiros e realizar o que alguns julgavam ser "a coisa certa", a própria tinha pavor de ficar dos feitos de seu pai e deixou homens mal intencionados ditarem suas ações em vez de agir por si própria como sempre fez e saiu bem sucedida, o que Daenerys necessitava naquele momento era apenas um pouco de empatia, e recebeu desconfiança de todos os lados.

A outrora confiante e poderosa Rainha Dragão se ver sendo derrotada e humilhada, então encontra um propósito para si mesma, algo que ainda possa realizar e que estava sendo alimentando por seu ódio a Cersei Lannister: livrar o mundo de tiranos, mesmo que o custo seja alto. 

Como é comum de pessoas desamparadas e deprimidas, Dany encontra propósito aonde ainda lhe resta, não há loucura nisso, como seus "aliados" tentaram desesperadamente pintar, mesmo após suas irreconhecidas corajosas ações no Norte, nada foi baseado em insanidade e crueldade, no momento só havia uma mulher se agarrando ao pouco que ainda lhe resta.

Ainda assim a razão falou mais alto que a emoção, e a negociação com Cersei é planejada, mostrando os últimos esforços diplomáticos de Daenerys, e acabam resultando na trágica morte de Missandei.

Missandei, a primeira escrava liberta por ela, não só havia morrido acorrentada, (lembrando a Daenerys como sua missão de Quebradora de Correntes estava fortemente ameaçada) mas assassinada diante de seus olhos após uma tentativa diplomática de negociação. Uma demonstração de força precisava ser usada, como a própria personagem já havia dito a Jon Snow uma vez: "Nós dois queremos ajudar pessoas, e só podemos fazer isso através de uma posição de força"

Tudo que Daenerys fez durante toda sua jornada foi ajudar pessoas, abolindo uma cultura inteira de escravidão, se Dany não demonstrasse força na situação precária que estava, abriria portas para seus inimigos derrubarem tudo que ela construiu, não era somente questão de ideais, mas também de legado, e é isso que fazem os ideais viverem para sempre.
Agora entremos um pouquinho no emocional da rainha: seu Khalasar fora massacrado, seu melhor amigo e conselheiro morto em seus braços, seus dois filhos mortos brutalmente, sua conselheira de maior confiança decapitada diante de seus olhos, o povo a temia, e seu amante sentia nojo de seu toque. A situação emocional da Rainha Dragão está claramente abalada, assim como a de qualquer pessoa no lugar dela estaria, podemos ver sinais característicos de um sério quadro de depressão surgindo, e até mesmo de ansiedade, eis alguns deles:

Insônia: Após a morte de Missandei, Daenerys se isola em Dragonstone e cai em profunda melancolia, fomos apresentados a uma mulher com seus cabelos destrançados e emaranhados (o que pode nos dizer muita coisa devido a cultura de força através dos cabelos trançados praticada pelos Dothrakis) e fortes olheiras, ou seja, Daenerys não dormiu.

Desesperança e perda de foco em seus objetivos: Quando Tyrion vem contar a Daenerys sobre a traição de Varys, ele justifica que todos estavam pensando em um mundo melhor, assim como ela, a Mão da Rainha indaga se isso ainda importava, Daenerys conclui que não, mostrando como estava danificada emocionalmente a ponto de seus ideais, que uma vez foram tão fortes a ponto dela adiar seus interesses pessoais...tiveram um custo muito grande.

Culpa: Sentada em frente a lareira, Daenerys declara a Verme Cinzento como se sentia culpada por não conseguir proteger Missandei. Uma cena forte pois é declarado que o único pertence da liberta era a coleira que costumava usar, que fora quebrada por Dany e seus soldados na liberação de Astapor, simbolizando como Missandei acreditava com todas as forças na missão da Quebradora de Correntes.

• Perda de apetite: na tentativa de envenená-la, Varys tenta fazer Daenerys se alimentar, ela recusa e continua em seu isolamento

• Sofrimento emocional: na primeira vez que vimos Daenerys sentada no Trono de Pedra em Dragonstone, vimos uma mulher confiante e focada, na última vez, vemos uma mulher sofrida e de luto.

Podemos citar muitos outros aspectos de depressão e ansiedade, apresentados pela Mãe dos Dragões (inclusive a cena do incêndio de Porto Real, que apesar de ser completamente incoerente, claramente mostra Daenerys tendo um ataque de ansiedade) é certo que não havia nenhum aspecto de insanidade ou desequilíbrio mental, mas sim de um quadro depressivo, o que torna tudo ainda mais problemáticos, pois nos mostra como os roteiristas banalizam tão rudemente um assunto tão sério, passando uma mensagem tão cruel e avassaladora.

Foram intermináveis os erros da oitava temporada de Game of Thrones, principalmente com Daenerys Targaryen, ainda assim nos esforçamos e apresentamos como pisaram sem dó em toda a jornada de uma personagem brilhante e que marcou pra sempre a cultura pop e até mesmo a vida de muitos espectadores.

Por Natan Oliveira (Jaehaerys)


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