[ANÁLISE] A CANÇÃO DE GELO E FOGO, ele fez tudo por amor [Rhaegar Targaryen parte III]

Uma das versões mais correntes entre Lyanna e Rhaegar é que eles fugiram porque estavam apaixonados
“– Também conheceu meu irmão Rhaegar?– Dizia-se que homem algum chegou a conhecer realmente o Príncipe Rhaegar. (A Tormenta de Espadas, Daenerys, p.88)” 
Eu acredito que essa fala de Sor Barristan, talvez tenha sido a frase mais sábia sobre o Rhaegar em todas as crônicas. Monstra que esse personagem é um enigma não apenas para nós como também para todo esse universo construído.

Se entre os vencedores da Rebelião de Robert, prevalece a noção de um Rhaegar estuprador, apesar das pistas destoantes como tentei demonstrar na segunda parte desta análise. Por outro, persiste também a versão dos derrotados. Dos lealistas Targaryen que lutaram ao lado de Rhaegar.


A primeira vez que ouvimos que Rhaegar teria morrido lutando pela mulher que amava, foi com a própria Daenerys, sua irmã. E esse foi o primeiro vislumbre que tivemos desse misterioso e intrigante personagem.

[…] por vezes, Dany conseguia visualizar os acontecimentos, tantas tinham sido as ocasiões em que ouvira o irmão contar as histórias. A fuga no meio da noite para Pedra do Dragão, com o luar cintilando nas velas negras do navio. Seu irmão Rhaegar, combatendo o Usurpador nas águas sangrentas do Tridente e morrendo pela mulher que amava. (A guerra dos tronos, Daenerys, p.26 )

 Daenerys passou a vida no exílio, ouvindo as histórias românticas e duvidosas que Viserys contava sobre os Sete Reinos de Westeros.


Como Cersei, Viserys certamente não é uma fonte confiável e por vários motivos. Primeiro que ele tinha por volta de oito anos quando fugiu para exílio, segundo que ele mesmo cresceu ouvindo as versões da rebelião contada pelos lealistas Targaryens e terceiro porque Viserys como sabemos, frequentemente distorcia o que contava a Daenerys.


Porém, a medida que a história foi se expandido, acompanhamos esse mesmo relato aqui e ali, na maioria das vezes com personagens que conferem um pouco mais de legitimidade ao fato e neste sentido, Sor Barristan Selmy, o ex Comandante da Guarda Real de Westeros, tornou-se uma fonte preciosa sobre Rhaegar. Ainda que não 100% confiável, vale dizer.

[…] Daenerys Targaryen amava seu capitão, mas essa era a garota nela, não a rainha. O Príncipe Rhaegar amou sua Senhora Lyanna, e milhares morreram por isso. (A Dança dos Dragões, O Derrubador de Reis, p. 741)

É Barristan que nos permite vislumbrar em primeiro lugar, traços mais substanciais da personalidade de Rhaegar.


“– Sei pouco de Rhaegar. Só as histórias que Viserys contava, e ele era um garotinho quando nosso irmão morreu. Como ele era realmente?
– Capaz. Isso acima de Tudo. Determinado, circunspecto, cumpridor, obstinado. Conta-se uma história sobre ele… mas sem dúvida Sor Jorah também a conhece.

– Gostaria de ouvi-la de você.

– Às suas ordens – disse Barba-Branca. – Quando criança, o Príncipe de Pedra do Dragão era extraordinariamente dado á leitura. Começou a ler tão cedo que os homens diziam que a Rainha Rhaella devia ter engolido alguns livros e uma vela enquanto ele estava em seu ventre. Rhaegar não tinha nenhum interesse pelas brincadeiras das outras crianças. Os meistres ficavam assombrados com sua inteligência, mas os cavaleiros do pai trocavam gracejos amargos sobre Baelor, o Abençoado, ter renascido. Até que um dia o Príncipe Rhaegar encontrou algo em seus pergaminhos que o mudou. Ninguém sabe o que pode ter sido, só se sabe que o garoto apareceu no pátio uma manhã, no momento em que os cavaleiros vestiam as armaduras. Foi direto a Sor Willem Darry, o mestre de armas, e disse: “Vou precisar de espada e armadura. Parece que tenho que ser um guerreiro.” (A Tormenta de Espadas, Daenerys, p. 89)”

“A perícia do Príncipe Rhaegar era inquestionável, mas ele raramente entrava nas liças. Nunca gostou da canção das espadas, como Robert ou Jaime Lannister gostavam. Era algo que tinha que fazer, uma tarefa que o mundo tinha lhe atribuído. Desempenhava-a bem, pois fazia tudo bem. Era essa sua natureza. Mas não tirava dela nenhuma alegria. Os homens diziam que Príncipe Rhaegar gostava muito mais da harpa do que da lança. (A Tormenta de Espadas, Daenerys, p. 445)   

 Assim vai se resgatando a imagem de um homem educado, culto, sensível capaz, inteligente, bom com as espadas, misterioso, introvertido, obstinado e melancólico…

 “De noite, o príncipe tocou a harpa de prata e a fez chorar. Quando lhe foi apresentada, Cersei quase se afogou nas profundezas de seus tristes olhos púrpura. Ele foi machucado, lembrava-se de ter pensado. (O Festim dos Corvos, Cersei, p.313)

[..] -Mas não tenho certeza de que Rhaegar tivesse a capacidade de ser feliz.
– Faz com que pareça tão amargo – protestou Dany.
– Amargo, não, não, mas…havia uma melancolia no Príncipe Rhaegar, um sentido… – o velho voltou a hesitar.
-Diga – pediu ela. – Um sentido…?
– …de tragédia. Ele nasceu em pesar, minha rainha, e essa sombra pairou sobre ele durante toda a vida. (A Tormenta de Espadas, Daenerys, p.445)”  

 Aclamado e honrado…


"Tinha dez anos quando finalmente viu seu príncipe em carne e osso, no torneio que o senhor seu pai organizara para dar as boas-vindas ao oeste ao Rei Aerys. Bancadas tinham sido erguidas por baixo das muralhas de Lanisporto, e as aclamações do povo ecoavam no Rochedo Casterly como trovões. Eles aclamaram o pai com o dobro da força com que aclamaram o rei, recordou a rainha, mas só com a metade da força com que aclamaram o Príncipe Rhaegar. (O Festim dos Corvos, Cersei, p.313)" 

"– Não havia honra maior do que receber o grau de cavaleiro das mãos do Príncipe de Pedra do Dragão." (A Tormenta de Espadas, Daenerys, p.254)

Frequentemente descrito como a grande esperança do reino , Rhaegar era respeitado e até mesmo temido por homens poderosos como Tywin Lannister que até aonde sabemos só decidiu-se pelo Saque de Porto Real, depois que ele morreu no Tridente.


“-Meu pai mantivera-se afastado da guerra, remoendo todas as desfeitas que Aerys tinha feito a ele e determinado a ver a Casa Lannister do lado dos vencedores. O Tridente decidiu-o. (A Tormenta de Espadas, Jaime, p. 387)”’


“[…] Para Leste temos os Arryn, Stannis Baratheon ocupa Pedra do Dragão e , no sul, Jardim de Cima e Ponta Tempestade convocam os vassalos.

Tyrion deu um sorriso torto.

-Anime-se pai. Pelo menos Rhaegar Targaryen continua morto. (A Guerra dos Tronos, Tyrion, p.541)”

Daenerys o homenageou duas vezes ao longo da história. Primeiro no nome de seu filho com Khal Drogo, e depois com um de seus dragões.


“O verde será Rhaegal, em homenagem ao meu valente irmão, que morreu nas margens verdes do Tridente. (A Fúria dos Reis, Daenerys, p.127)”


Rhaegar é frequentemente usado por Sor Jorah e Sor Barristan, para elogiar Dany. Lembrando que Sor Jorah é um Mormont, ou seja, uma casa que está submetida à Casa Stark e que lutou ao lado deles na Rebelião de Robert.


“Com certeza, sou apenas uma garotinha e pouco sei de guerra. O que acham, senhores?

-Acho que é irmã de Rhaegar Targaryen – disse Sor Jorah com um meio sorriso tristonho.

– Sim – disse Arstan Barba-Branca -, e também uma rainha. (A Tormenta de Espadas, Daenerys, p.441)”

Ele mantinha em seu círculo de confiança os cavaleiros mais honrados dos Sete Reinos, inclusive Sor Arthur Dayne, A Espada da Manhã. Simplesmente um dos cavaleiros mais reverenciado da história de Westeros.


“O escudeiro do Príncipe Rhaegar foi Myles Moonton, e depois Richard Lonmouth. Quando ganharam suas esporas, foi ele mesmo quem os armou cavaleiros, e permaneceram companheiros próximos. O jovem Lorde Connington também era caro ao príncipe, mas seu amigo mais antigo era Arthur Dayne. (A Tormenta de Espadas, Daenerys, p.88)”

Jon Conington aparenta nutrir uma sincera queda pelo Príncipe de Pedra do Dragão.


“Outros poderiam dizer que o reino foi perdido quando o Príncipe Rhaegar caiu sob o martelo de guerra de Robert, no Tridente, mas a Batalha do Tridente, nunca teria sido travada se o grifo tivesse matado o veado no Septo da Pedra. Os sinos dobraram por todos nós naquele dia. Por Aerys e sua rainha, por Elia de Dorne e sua filhinha, por todo homem verdadeiro e mulher honesta dos Sete Reinos. E por meu príncipe de prata. (A Dança dos Dragões, O Senhor Perdido, p.267)

Assim como Sor Barristan, Jon Conington lutou ao lado dos Targaryen na Rebelião de Robert. Porém o interessante desse grupo, que relaciona diferentes pontos de vistas, é que ele nos revela aspectos importantes da personalidade de Rhaegar e como os mais variados personagens se sentem em relação a ele, de modo que não temos apenas o ódio de Robert como parâmetro.


Rhaegar despertava também amor, desejo, devoção, respeito, honra, esperança e deixava nas pessoas uma profunda sensação de mistério e melancolia.


Todos esses relatados são depoimentos importantíssimos, pois são eles que permite com que os leitores confrontem os depoimentos queixosos de Robert. Porém, mesmo desse lado da história, Rhaegar ainda levou Lyanna por meio da força.


“Lado a lado, as procissões da rainha e de Hizdahr zo Loraq fizeram seu lento caminho através de Meereen, até que finalmente o Templo das Graças assomou diante deles, seus domos dourados reluzindo ao sol. “Que bonito”, a rainha tentou dizer para si mesma, mas por dentro era apenas uma garota tola que não podia evitar de procurar por Daario. SE ELE AMASSE VOCÊ, ELE VIRIA E A LEVARIA NA PONTA DA ESPADA, COMO RHAEGAR LEVOU CONSIGO A GAROTA NORTENHA, a garota nela insistia, mas a rainha sabia que era tolice. Mesmo se seu capitão fosse louco o suficiente para tentar, as Bestas de Bronze o abateriam antes que chegasse a cem metros dela.” (A Dança dos Dragões, Daenerys VII)


De uma forma romantizada, Daenerys praticamente admite que Rhaegar levou Lyanna através de meios nada pacíficos, ou seja, é quase uma admissão da versão em que Rhaegar sequestra Lyanna. Porém, como explicarei no decorrer da série, cabe lembrar que Rhaegar era o príncipe herdeiro do reino, isso dava a ele certos benefícios e tolerância, tanto que não é o sequestro de Lyanna que faz o norte se rebelar contra o Trono de Ferro em si, mas as ações finais de Aerys II, pelo menos, aparentemente.


Contudo, apesar do que foi dito, não podemos em nenhum momento esquecer que os relatos citados aqui, embora permita um quadro mais amplo sobre a personalidade de Rhaegar, ainda são relatos feitos a partir das expectativas de cada um dos personagens mencionados. São observações externas ao personagem. Novamente era como as pessoas enxergavam Rhaegar e não o que ele era em seu íntimo talvez. Então a primeira citação de Barristan que eu trouxe nessa parte é muito importante, pois talvez seja a maior verdade sobre Rhaegar já admitida por Martin: ninguém chegou a conhecer príncipe Rhaegar de verdade.

E ainda que estes depoimentos revelem um fundo verdadeiro, particularmente eu não acho que Rhaegar “sequestrou Lyanna” porque estava simplesmente apaixonado por ela. Da mesma forma que eu não acredito que Rhaegar “sequestrou” Lyanna porque tinha um desejo bizarro por ela. São duas possibilidades possíveis, mas que a própria estrutura narrativa dos livros se esforça para colocar em cheque… e quando você olha com mais atenção, essas duas versões simplesmente não encaixam por si só.

E com esta análise/ensaio, quero mostrar que a grande questão com esses personagens, não é exatamente o que eles foram, mas o que eles fizeram. Suas ações e o meio no qual eles estavam inseridos.

Neste ponto, precisamos falar sobre meistre Aemon e a relação de Rhaegar com a profecia do Príncipe que foi Prometido, assim como a rede de conspiração que poderia estar acontecendo em Westeros durante o contexto do "sequestro" de Lyanna por Rhaegar.


Texto publicado originalmente por mim no blog No Meu Mundo.


Por Luciana Gomes (Rhaenys)

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas